quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Perdemos uma grande amiga...

Foi quando perdi a minha gatinha que mais vontade tive de voltar a escrever, porque é algo que me ajuda muito: desabafar e deixar os sentimentos registados para poder lidar melhor com eles. 
Na altura não o consegui fazer mas acho que ainda vou a tempo.

A Nina estava connosco há 15 anos, passou comigo muitas fases da minha vida, já fazia parte da família quando fui mãe pela primeira vez e viu-o crescer, e a mim também. Era uma gata muito dona do seu nariz que só fazia aquilo que queria e não gostava nada de visitas, mas ao mesmo tempo era muito mimada e ligada a nós, adorava dormir ao lado (ou em cima) da sua dona e ronronava muito, principalmente comigo e com o dono mais pequeno.

No geral, foi uma gata saudável e não dava muito trabalho, portanto quando começou a emagrecer foi muito estranho pois eu já estava habituada a ter uma gata gordinha. De um momento para o outro deixou de comer e começou a ficar prostrada, aí fomos com ela ao veterinário que diagnosticou icterícia devido a uma infecção, fez antibiótico e outra medicação para melhorar o apetite que durante algum tempo pareceu resultar. Voltou a comer, apesar de pouco, e a ficar mais espevitada. 
No entanto, passado uns dias voltou a recusar comida, mesmo comigo a dar com a seringa, nem a água aceitava. Foi fazer raio-x que acusou mais uns quantos problemas e assim que possível voltamos com ela ao veterinário e delineámos um plano de recuperação. Nesse dia o veterinário queria ficar com ela internada, mas eu já tinha perdido um gato no internamento e pedi para ficar com ela nessa noite, visto que os tratamentos só iriam ser iniciados no dia a seguir de manhã. 

Chegámos a casa e custou-me muito vê-la naquele estado, não queria fazer nada e no veterinário olhava para mim com um ar... Como se não quisesse estar ali. Naquele momento tive de tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida e falei com ela, disse-lhe que se quisesse lutar pela vida para aguentar mais aquela noite e no dia a seguir estaria ao seu lado para a ajudar no que fosse preciso. Mas se não conseguisse fazê-lo mais que se deixasse ir, que me tinha feito muito feliz e que nunca seria esquecida. Como já costumava acontecer, à noite deitou-se ao meu lado e eu dormi agarrada a ela. A meio da noite comecei a senti-la com algumas dificuldades em respirar, tentei acalmá-la, senti-a dar o último suspiro e o seu coração parou de bater na minha mão...

Sinto que foi sem sofrimento e porque quis, e estava num dos seus sítios preferidos, na nossa cama junto aos donos. Chorei, chorei e solucei, ao ponto de acordar o meu filho que se apercebeu logo do que se tinha passado, até porque já tínhamos falado sobre essa possibilidade. Ele chorou muito também até que finalmente voltou a adormecer. Quando a minha enteada acordou, o pai contou-lhe e eu ao ouvi-la chorar voltei a chorar também, a dor foi tão forte mas sei que ela cumpriu a sua missão e foi em paz. 

Passar por tudo isto grávida não foi nada fácil, temos sempre medo de passar estes sentimentos para o bebé, e muitas vezes se diz às mulheres para não chorarem, não sofrerem. Mas sei que não devo esconder os meus sentimentos, até porque é impossível para quem está por perto, quanto mais para um ser que está dentro de mim. Portanto chorei o que senti que tinha de chorar e falei muito com a minha barriga, disse-lhe que estava tudo bem connosco, que tínhamos perdido uma amiga de longa data, que eu gostava que conhecesse melhor, sim, porque conheceram-se. A Nina adorava encostar-se à barriga e ronronar e por vezes até parecia haver ali alguma comunicação entre elas, e foi lindo de se ver!


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